quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

HELL OR HIGH WATER (2016)


De vez em quando aparecem filmes que passam completamente despercebidos nos cinemas, mas começam a ganhar um certo buzz, normalmente porque são mesmo bons estes filmes mas como não tem super-heróis, as pessoas não os vão ver ao cinema. Foi o caso deste Hell or High Water que conseguiu uns "estrondosos" 30 milhões de dólares de box-office no mundo inteiro. Só em termos de comparação, o último Star Wars conseguiu 155 milhões só nos EUA no primeiro fim-de-semana. Mas pronto, é o mercado. Mas as pessoas começaram a falar deste filme e foi uma sorte sequer estrear em Portugal. Se nos EUA o filme estreou em Agosto, foi preciso uns quantos prémios e nomeações para Globos de Ouro para conseguir estrear por terras lusas 4 meses depois da estreia americana. Business.

 É POSSÍVEL QUE HAJA SPOILERS

O filme trata a história de dois irmãos que para poder pagar a hipoteca de uma quinta, assaltam pequenas agências bancárias, todas do mesmo banco. O mesmo que lhes está a hipotecar a quinta. As coisas começam por correr relativamente bem. Não sendo os ladrões mais profissionais do mundo, os gajos têm a coisa bem pensada. Pequenos bancos têm poucas pessoas e assim menos hipóteses de correr mal. E como só roubam notas pequenas, é possível lavar esse dinheiro num casino. Os irmãos são Toby e Tanner (interpretados por Chris Pine e Ben Foster, respectivamente), e eles são completamente diferentes um do outro. Por um lado, o Toby é o cérebro da operação, calmo e metódico. Não tem prazer no que faz e só o faz por motivos de força maior. Por outro lado, o Tanner é desestabilizador, só arranja chatices. É impulsivo e isso paga-se caro. Por causa desta onda de assaltos começam a ser investigados por Marcus Hamilton e Alberto Parker (Jeff Bridges e Gil Birmingham). Quando vão para o último golpe (é sempre no último), o Tanner muda os planos do assalto e pretende assaltar um banco maior do que o costume. Já se sabe que quando se alteram assim os planos, as coisas tendem a correr mal. E é isso mesmo que acontece. Quando chegam ao banco deparam-se com "casa cheia", há uma troca de tiros, o Tanner chega a matar uns quantos e não sabendo bem como, conseguem fugir, apesar de toda a cidade fazerem deles tiro ao alvo.
Quando os dois irmãos se separam em carros diferentes, chegamos a pensar que se podem realmente safar. Mais à frente percebemos que não é bem assim e que o Tanner não se vai safar. Leva com um balázio na testa. Já o Toby safa-se e na cena final tem uma espécie de duelo dos velhos westerns, mas em vez de pistolas usam as palavras. 

A história parece um banal filme de polícias e ladrões, e talvez até o seja. Mas não é banal por causa de uma coisa muito importante: a forma. Conhecem aquelas mulheres que dizem: não é o que tu dizes, mas a forma como o dizes"? Aqui é mais ou menos isso: não é a história do filme mas a forma como esse filme é contado.


Começo desde já pela parte mais técnica, que não percebo nada. E mesmo não percebendo muito, consigo ver ali uma fotografia muito cuidado, com um filtro meio amarelo, quase Texano. Depois a banda-sonora. Se gostam de música country, vão adorar ouvir apenas esta banda-sonora. Obrigado Nick Cave e Warren Ellis.
A forma como é filmado o filme: vejam-se as cenas dos assaltos, por exemplo. São hiper-realistas. A maneira como a dupla assalta cada banco faz-me sempre pensar: isto se fosse eu, faria exactamente assim. Depois, esse realismo passa para os diálogos. São conversetas que poderíamos muito bem ter no nosso dia-a-dia. 
Outra coisa que caracteriza este filme é o seu ritmo. Sim, é um filme lento. E numa altura em que vivemos onde tudo é rápido, é impressionante o risco tomado para este filme. Sim, o filme é lento, mas NUNCA aborrecido. Tudo o que vamos vendo interessa, todas as pequenas conversas, as transições ao som de uma música. Cada cena toma o seu tempo a ser construída e digerida. E isso é de valor. 
Finalmente, o maior trunfo do filme são os actores. E aqui temos duas duplas. O polícia e companheiro (Jeff Bridges e Gil Birmingham) que passam a vida a discutir, a insultar-se, com bocas racistas do Bridges, mas com um bela química. A morte do personagem do Gil Birmingham foi completamente inesperada e ver a expressão do Jeff Bridges é algo digno dos grandes actores. E depois a dupla principal entre o Chris Pine e o Ben Foster como irmãos mas mesmo assim tão antagónicos. Nunca os dois estiveram tão bem num filme. Por um lado o mais tresloucado Foster e por outro o Pine, com um underacting impecável e ao mesmo tempo tão emocional. Estes quatro actores nem parecia que estavam a representar, tal a naturalidade das interpretações e claro do guião.

Resumindo e concluindo: se ainda não viram, não sei porque estão a ler este comentário ao filme. E depois, ide lá depressa ver. Vai com selo de qualidade aqui do escriba.

Nota final para o título português, Custe o que Custar! Mesmo não sendo uma tradução literal do título inglês, acaba por ser uma tradução do significado da expressão inglesa que dá título ao filme. Não percebo o ponto de exclamação, mas isso passa bem.


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