segunda-feira, 31 de outubro de 2016

THE LAST HOUSE ON THE LEFT (2009)


Quando nos anos 70, Wes Craven realizou The Last House on the Left, este estava longe de imaginar que iria ser o rei do terror, reimaginando o género várias vezes. A saga de Elm Street e os filmes de Scream foram pontapés no charco e lufadas de ar fresco num género onde é fácil copiar.
Ora Craven começou por esse The Last House on the Left. Era um filme cru, sujo. A história era simples. Uma rapariga é violada e deixada às portas da morte por um grupo. Durante uma tempestade esse grupo pede guarida numa casa, que curiosamente era habitada pelos pais da rapariga. Os pais descobrem o que aconteceu à filha e decidem vingar-se. O remake segue a mesma história.
Confesso que vi primeiro o remake e só depois o original. Foi numa altura em que estava na moda refazer todos esses clássicos de terror. Para mim, este era menos conhecido. Não tinha o Freddy Krueger, o Jason Voorhees ou o Michale Myers, filmes que também sofreram remakes. Este era mais real.
E se é um remake, claro que todos comparam com o original. É normal isso acontecer, mesmo que estejam separados por 40 anos. Como já o disse, o filme de Craven era mais sujo, os personagens não tinham qualquer sex-appeal, era mais verdadeiro. Mesmo a cena da violação era mais violenta. Mas isso também aconteceu numa época em que o politicamente correcto não era tão marcado. Agora não podemos mostrar nada para não ferir susceptibilidades dos meninos que vão ao cinema. Ainda assim, esta nova versão tenta fugir a isso. Apesar de limpinho, o filme acaba por marcar porque tenta ir mais além que os outros. 
Por causa disso, gostei bastante desta versão de uma história de vingança, ou antes de "justiça pelas próprias mãos".

Não sou pai mas quero ser. E sempre disse que gostava de ter uma filha. Se me colocasse no lugar daqueles pais cuja filha foi baleada e violentamente violada, tenho a certeza absoluta que faria igual ou pior do que aquilo que foi retratado no filme. Nunca fui a favor da chamada "justiça popular". Temos de acreditar na Justiça, nas leis, etc. Se assim não for, não somos mais que animais. Mas quando se trata de um filho a ser atacado, o caso muda de figura. Porque este não é o caso de uma miúda que levou um estalo da uma colega na escola. É impossível sentir o que sente um pai numa situação destas, a menos que passemos por ela. E é isso que o filme trata. Uns pais que não pensam na Justiça (legal), mas em punir quem fez aquilo à filha (mesmo que no final isso não desfaça o que foi feito).


E gosto do filme porque isso é bem retratado. Os actores, mesmo parecendo saídos de um catálogo da La Redoute são impecáveis. A começar nos pais e acabando no grupo vilão. Nesse grupo a destacar o Aaron Paul, que consegue transmitir um ar de lunático e tarado que quer papar a mãe.
Esqueçamos aqueles primeiros vinte minutos que não interessam para nada. Em pouco tempo, contado de uma outra maneira, conseguiríamos criar a empatia com as vítimas e pais. Não eram precisas tantas cenas para encher chouriços.
Ao fim ao cabo, mesmo com esse ar limpinho que referi, não deixa de ser preciso estômago para ver o filme.


E depois termina com uma pièce de résistance, onde o vilão principal termina com a cabeça dentro do micro-ondas até explodir. E gostei disso porque depois de toda a tortura do filme, conseguimos terminar com um sorriso nos lábios.
Por isso não rejeitem logo à partida o filme por se tratar de um remake.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

RED EYE (2005)


Wes Craven é um tipo obrigatório quando falamos em cinema de terror. Começou com o clássico, nos anos 70, low-budget The Last House on the Left. Aproveitou a boleia do Massacre no Texas e fez o muito bom The Hills Have Eyes. Nos anos 80, bastaria referir o nome de Freddy Krueger, mas ainda tem no currículo filmes como Swamp Thing ou o injustamente esquecido The Serpent and the Rainbow. Nos anos 90, reinventou-se a si próprio e o género de slasher com a saga Scream (todos os filmes foram realizados por ele) e ressuscitou Krueger com o New Nightmare (para mim o melhor filme da saga). Acontece que chegou o novo século e Craven andou meio perdido com filmes de merda: Music of the Heart, que é esta merda?? Cursed e My Soul To Take são cocó em forma de filme. Mas ali no meio fez um pequeno filme de nome Red Eye.

SPOILERS

Red Eye foi uma surpresa. Parece ser um banal filme de suspense, mas são os pequenos truques que só Craven sabe que o tiram dessa banalização. Acaba por ser o filme menos "craveniano", se esquecermos aquele filme que ninguém conhece mas que tem a Meryl Streep. Não há tripas de fora, não há grandes sustos. Aqui há o psicológico a funcionar. 
E eu adorava ter visto o filme sem saber nada dele. Começa por parecer um filme romântico. Homem e mulher conhecem-se no aeroporto enquanto esperam um voo. E estabelecem logo uma boa química para para romântico. É sempre bom ver Rachel McAdams e o seu sorriso. O Cillian Murphy, apesar do ar de lunático que sempre teve, aparenta ser uma pessoa que humidifica as mulheres. 
E mesmo parecendo um filme romântico de sábado à tarde, fico agarrado à cadeira só para os ver conversar. São coisas banalíssimas mas que acabam por nos prender. Acontece que do nada, o homem dá o twist e pumba: apresenta-se como um assassino que tem o pai da mulher raptado, e se ela não fizer uma simples chamada, o pai dela é morto. E ele diz isto de uma forma tão vulgar que ela pensa que ele está a brincar. Isto tudo enquanto estão sentados lado a lado no avião.


O filme é bastante curto (não chega aos 80 minutos) o que só joga a seu favor. Wes Craven cingiu-se ao que era importante: estabelecer a relação entre os dois e depois a acção propriamente dita. O gajo brinca com todos os clichés do cinema do género, da mesma forma que já tinha feito com o Scream e o género do slasher.

Mas o que mais gosto no filme é mesmo o par protagonista. Nunca tinha dado nada pelo Cillian Murphy, mas aqui, caramba, o gajo está impecável. Consegue ter aquele ar por quem nutrimos empatia, e depois de se revelar como vilão, gostamos de o ver a fazer o que faz. Até depois, lá para o final, de ter uma caneta espetada na garganta (ou traqueia), e ter uma voz de quem fuma 5 maços de tabaco por dia, é divertido vê-lo. Então com aquele lenço enrolado no pescoço, é impossível não esboçar um sorriso. É daqueles vilões que queremos ver morrer mas, ao mesmo tempo, queremos é vê-lo actuar. 


Depois temos a Rachel McAdams, que no ano anterior tinha sido uma das melhores vilãs (mulheres) no Mean Girls. Aqui, temos mais uma mulher heroína num filme do Craven (depois da Neve Campbell). Consegue transmitir o que está a passar e no final ainda se revela uma mulher de força, na cena em casa do pai. E depois é tão gira que me dá vontade de a levar para casa para tratar dela.
Ainda uma palavrinha para Brian Cox, que bem poderia ser um actor qualquer que não faria diferença. Mas é o Brian Cox e isso é sempre positivo. E já que o temos no elenco, então que seja ele o autor do tiro final no vilão. 

Aconselho mesmo o filme, que é cheio de suspense psicológico mas ao mesmo tempo é divertido. 

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

RASHÔMON (1950)


Há coisas que, nos meus 34 anos de vida, tenho vergonha de admitir. São muito poucas, mas há sempre alguma coisa que preferimos guardar só para nós. Como amante de cinema ou de filmes, tenho de admitir aqui perante a meia dúzia de leitores deste espaço que só agora, em Outubro de 2016, vi pela primeira vez um filme de Akira Kurosawa. Não sei por que razão esperei tanto tempo para me iniciar no cinema deste realizador, mas já o deveria ter feito há muito tempo. E não posso dizer que seja por algum tipo de preconceito. Simplesmente nunca surgiu ocasião, ou nunca me "lembrei" de ver qualquer que fosse o filme. Há uns dias estava a ouvir um podcast sobre cinema, que em cada episódio fazem um "profile" de uma figura do cinema. Um desses episódios era sobre Kurosawa. Mesmo sem nunca ter visto um filme dele, lá vi esse episódio. Ajuda o facto desse podcast ser apresentado por Alicia Malone. Se não conhecem a Alicia, ide à internet pesquisar. Uma mulher que respira saúde por todos os poros.
Lá fui "convencido" a começar a ver uns filmes do Kurosawa. Próxima tarefa: escolher o filme para começar. Acabou por ser fácil. O critério foi mesmo o da duração. O filme mais curto que tinha disponível era este Rashômon. Segui este critério pois era de noite e no dia seguinte tinha que me levantar cedo.
Bem, e o que há a dizer deste clássico? Tenho tantas notas na minha cabeça que nem consigo articular um texto com cabeça, tronco e membros, ou seja, o habitual.
A história do filme resume-se em poucas palavras. Quatro pessoas relatam um crime, cada um com a sua versão. Através de flashbacks vamos vendo o que se passou. Todas as histórias diferem uma da outra, o que se pressupões que há ali mentirosos. E que crime é esse? Um casal está em viagem pela floresta quando são interpelados por um homem, o grande Toshiro Mifune. Esse homem ataca o casal, violando a mulher e depois matando (aparentemente) o companheiro. E é este episódio que é relatado pelas diversas pessoas: um lenhador, um sacerdote, o próprio bandido, a esposa do falecido, e o falecido samurai que "fala" através de um médium.
Chegamos ao final e ficamos sem saber o que realmente se passou. Talvez seja mais plausível acreditar na versão final do lenhador, mas mesmo assim essa interpretação fica em aberto.
Talvez entendendo a cultura do Japão e do cinema japonês seja mais fácil entender o filme.
Mas este é o tipo de filme que deixa vários sentimentos a cada pessoa. Se para mim pode significar uma coisa, para o meu vizinho pode significar outra. E é isso que para mim é este filme. Nem tudo é preto e branco. Em última análise este filme pode ser uma reflexão sobre a vida em geral e todas as áreas cinzentas que nela existem.
Tecnicamente o filme é perfeito. Desde uma fotografia brilhante a todo o trabalho de câmara. Aqueles planos longos, entre os arbustos são qualquer coisa.
Depois há todos aqueles pormenores que elevam o filme. De reparar que durante o filme está sempre a chover (no tempo presente). E é nessas alturas que temos a visão mais pessimista e negra do ser-humano. No final dá-se o clímax. Quando os personagens encontram um bebé abandonado e o lenhador, mesmo pobre, aceita ficar com ela. Aqui é restabelecida a fé na Humanidade. A chuva pára e faz-se sol. Tem este final optimista. Apesar de tudo a vida não são só tragédias.
Ainda a referir as cenas de luta. Aqui não há coreografia espalhafatosas. Aqui temos dois homens que lutam pela sobrevivência. Quase parecem de improviso. O espectador consegue ver o cansaço espelhado nas faces dos personagens.


E caramba, que interpretações. Confesso que só conhecia o Mifune e já sabia do que ele era capaz. Uma espécie de Clint Eastwood do oriente. Mas aqui tem um papel mais "louco" com expressões de quase homem primitivo. Depois há o lenhador, interpretado pelo Takashi Shimura, com um desempenho tão sensível quanto subtil.

O filme serve ainda para tentarmos compreender o papel da mulher na sociedade japonesa. Aqui temos uma mulher que é violada e que o marido abandona pois já tinha "conhecido" dois homens. A vergonha. Claro que hoje em dia isso é inadmissível, mas dá que pensar sabermos que já existiu uma época onde se pensava assim. (Se bem que, mesmo em Portugal, e muito recentemente, vi um psicólogo aconselhar as meninas a não se exporem tanto pois os pedófilos violadores poderiam atacar. Ou seja, em pleno século XXI, numa sociedade, dita, evoluída, há pessoas formadas que culpam as mulheres e meninas pelas violações.)

Resumindo e concluindo, que este texto está mais confuso que um livro do Chagas Freitas, este é um filme obrigatório para todos os que gostam de cinema enquanto ARTE. Há aqui tanto mas tanto para aprender.
Vejam aqueles que são considerados os melhores realizadores de Hollywood de sempre, como o Spielberg, Scorsese, Tarantino, Coppola, etc. Foram todos beber aos ensinamentos de Kurosawa.
Um exemplo óbvio de inspiração deste filme: The Usual Suspects é todo ele inspirado e/ou copiado deste Rashômon. Usamos os flashbacks, sem serem na verdade flashbacks, até porque supostamente só um dirá a verdade, para contar um crime.

Um filme viciante, que agarra de início ao fim.

(Texto a editar, pois foi o mais difícil que alguma vez tive de escrever.)

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

RAIDERS OF THE LOST ARK (1981)


Poderei ser polémico, mas estou a cagar-em para isso, pois ser polémico faz parte de mim, mas Os Salteadores da Arca Perdida é o segundo pior filme da saga de Indiana Jones. Para as pessoas que teimam em dizer que o quarto filme (O Reino da Caveira de Cristal) não existe, então este Salteadores é o pior filme da trilogia. Mas ser o pior desta trilogia é o mesmo que ser o melhor que tudo o que saiu antes e depois no que respeita a filmes de aventuras.
Confesso que não tenho recordação da primeira vez que tive contacto com Indiana Jones. Nem sei se o primeiro filme que vi da saga foi o primeiro. O que eu sei é que vi e revi a trilogia vezes sem conta. À semelhança da trilogia Star Wars e Back To The Future, esta faz parte do restrito lote que é revisto uma vez por ano.


O que mais recordo deste primeiro filme foram os primeiros 15 minutos. A primeira vez que vemos o herói, saído das sombras, de chapéu e chicote em riste. Sabíamos ali que estávamos perante algo especial. E depois, ainda nessa cena: que raio de tecnologia existia há milhares de anos para terem sistemas de segurança quase infalíveis e mortais? Foda-se, aquilo eram espinhos, bolas de pedra gigantes, armadilhas no chão, sistemas de pesagem perfeitos (aquela cena onde o Indy troca a estatueta por um saco de areia), etc. E depois, aranhas, muitas aranhas e outros bichos nojentos, esquisitos e medonhos. Vão lá para o raio que os parta, mas em toda a saga há bicharada. Quase parece o BBC Vida Selvagem.
O filme é aventura pura e do melhor e mais inteligente que há. Cheio de cenas memoráveis: ninguém esquece a cena em que o Indy dispara um tiro ao gajo que estava armado em bom com a espada. Ninguém esquece a cena no final onde nazis derretem depois de abrirem a arca. E ver nazis derreter tem sempre o seu encanto. Mesmo os nazis que estão a ler este comentário têm de admitir que é algo bonito de se ver.
E depois é um filme bem representado. Harrison Ford é o herói que TODA a gente gosta. Se calhar há um ou outro nazi que não aprecia, mas quanto a esses não posso fazer nada. Mas Ford é uma espécie de "everyday man", um super-heróis mas sem essa coisa do "super".

Em jeito de conclusão, é um filme para se ver em família. As raparigas gostam, os rapazes também. Os pais gostam e as mães também. As avozinhas adoram e os avôs igual. Mas eu disse no início que este é o pior da trilogia. Se me pedirem para explicar esta afirmação eu acho que não consigo. Talvez seja o que mais me aborrece. Deve haver ali uns 5/10 minutos mais aborrecidos pelo meio, o que o torna o menos "rewatchable", mas ainda assim quase quase quase perfeito.

Já agora, porque raio o Indiana Jones usa óculos enquanto dá aulas e no resto do filme não?


terça-feira, 18 de outubro de 2016

TOP CHRISTIAN BALE

Se Christian Bale não é um dos melhores actores da sua geração em Hollywood, então não sei quem será. Além dos dotes de actor, o gajo é um autêntico camaleão que se transforma fisicamente para cada papel. Ou ganha músculo para fazer de Batman ou perde 200 quilos para fazer de gajo que não dorme há um ano. Isso é que é empenho. Escolhi dez filmes, entre eles uns guilty-pleasures.
(ordem cronológica)

- EMPIRE OF THE SUN (1987) - Império do Sol, de Steven Spielberg


- AMERICAN PSYCHO (2000) de Mary Harron


- REIGN OF FIRE (2002) - Reino de Fogo, de Rob Bowman


- EQUILIBRIUM (2002) de Kurt Wimmer


- THE MACHINIST (2004) - O Maquinista, de Brad Anderson


- BATMAN BEGINS (2005) - Batman: O Início, de Christopher Nolan


- THE PRESTIGE (2006) - O Terceiro Passo, de Christopher Nolan


- 3:10 TO YUMA (2007) - O Comboio das 3 e 10, de James Mangold


- THE FIGHTER (2010) - Último Round, de David O. Russell


- THE BIG SHORT (2015) - A Queda de Wall Street, de Adam McKay


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

THE LORD OF THE RINGS: THE RETURN OF THE KING (2003)


Depois de mais de seis horas de filme, eis que chega ao desfecho uma das grandes trilogias do cinema. A primeira vez que vi este filme marcou-me de alguma maneira. Um mês antes da estreia, o extinto cinema Avenida, em Coimbra, anunciou uma ante-estreia mundial. Uma sessão única à meia-noite e uma semana antes da estreia mundial. Despachei-me a comprar 3 bilhetes para essa sessão. Acontece que chega o dia D, e uma filha da puta de uma febre atacou-me. Mas lá me fiz de forte, e com gripe e cerca de 40º de febre, lá vou ver o filme, acompanhado pelas duas colegas de casa da altura. Passava das 3 da manhã quando acabou o filme. Suava que nem um gordo que acaba de subir dois degraus. Mas senti-me mais importante que o resto do mundo, afinal acabava de ver a conclusão épica antes de todos os outros. 
Lembro-me que na altura tinha adorado o filme e a conclusão. Hoje não adoro assim tanto. Os erros são os mesmo que nos anteriores. Bem espremidinho e não dava mais de duas horas de filme. Mas digo já que continua a ser um belo filme.


SPOILERS 
Em 2003, o início do filme foi a cena que mais me marcou no filme. Vemos uma espécie de flashback de quando Smeagol encontra o anel, ou melhor, rouba o anel ao melhor amigo depois de o matar. Aquela transformação em Gollum foi fenomenal. E aqui já podíamos ver o trabalho a 100% do actor, antes de estar coberto de motion-capture.
O melhor do filme continuam a ser as cenas com Gollum, Frodo e Sam. O resto é mais para encher chouriços. Nós queremos é ver o anel a ser destruído. E se no segundo filme ainda tínhamos alguma compaixão pelo Gollum, neste terceiro isso desaparece completamente (à excepção de quando ele cai no fogo e morre agarrado ao anel). 
E é graças ao Gollum, que vamos percebendo que o Sam é o verdadeiro herói da trilogia. Senão vejamos:
- A certa altura, e mesmo depois de tudo, Frodo manda Sam embora para se aliar a Gollum, que é um manipulador nato. Foi uma das cenas mais comoventes do filme. Sam vai mas há-de voltar. Se fosse eu tinha-o mandado à merda e ia à minha vida.
- Depois vem a tão famosa cena com a aranha gigante. O que acontece? Sam derrota a aranha e salva Frodo que tinha sido capturado. 
- Sam carrega o Frodo às costas, quando este já estava praticamente inconsciente. É mais uma daquelas cenas a que eu chamo de "cena WTF". «Come Mr. Frodo. I can't carry it (the ring) for you, but I can carry you". (lágrimas escorrem do espectador)
- Depois lá vem a cena da destruição do anel. Mais uma vez Sam salva o Frodo no penhasco. 

Foda-se, desculpem lá, mas o filme vale quase todo pelo Samwise Gamgee

No final, quando o Frodo acorda, dá-se um reencontro emocionante entre a irmandade toda. Todos se curvam perante os quatro hobbits.

Parece que o final, demasiado prolongado, é criticado por muitos. Quer dizer, anda um gajo a aturar uma trilogia com cenas e personagens completamente desinteressantes, e depois criticam 25 minutos de conclusão. Sinceramente, eu gostei bastante do final escolhido. Foi o fechar perfeito de um ciclo. Termina onde tudo começou. 

E mais uma prova de que Sam é o herói é a cena final. O filme acaba com este a despedir-se de Frodo. No entanto, em vez de fechar com o "carregador do anel", o filme termina com Sam


Sei que na altura tinha gostado bem mais da trilogia. O deslumbramento fez-me esquecer toda a seca que apanhei algumas vezes. Fosse eu especialista em edição de filme e faria os cortes necessários à trilogia. No fim, em vez das mais de nove horas de filme, teria um animado e excitante filme de duas horas e meia.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

THE LORD OF THE RINGS: THE TWO TOWERS (2002)


Um ano depois de ter passado metade de um filme à rasca para ir mijar, chegavam aqui mais 3 horas de filme, com este The Two Towers. Há filmes que nos marcam e que por alguma razão nos lembramos perfeitamente onde o vimos, com quem, horas, etc. Este é um desses casos. Não por causa do filme, mas por toda a envolvência. Em Dezembro de 2002 era um caloiro na Universidade. Férias de Natal dos "estudos" e das bebedeiras. Conseguir um bilhete para um bom lugar para ver este filme não era tarefa fácil. Consegui um bilhete, mas não foi para um bom lugar. Pior que ter um lugar na segunda fila, é ter um bilhete para a segunda fila com aquelas pessoas em particular que tive ao lado. Mal se apagam as luzes, um casal ao meu lado abre o saco da mulher e sacam de lá dois menus do McDonalds. Ora, aquele cheiro a fritos era tudo o que precisava para apreciar o filme. Começa o filme, e o Peter Jackson espera que todos tenhamos visto o primeiro filme. Não há uma espécie de "Previously on the LOTR...".
Lembro-me que na altura cheguei ao fim do filme de boca aberta. Tinha adorado o que tinha visto. Mas acho que foi a conjugação de dois factores: Gollum + batalha de Elm's Deep. Porque de resto há ali muita coisa a mais. 
Neste segundo filme aparecem mais umas dezenas de personagens. A certa altura já não sabia quem era quem. E à medida que aparecem mais personagens, perdemos interesse por elas. À excepção do trio (Aragorn, Gimli, Legolas) e dos 4 hobbits, não quero saber dos restantes. Quero lá saber da história do rei Theoden estar possuído por Saruman (ou será o Sauron?). E depois aquela espécie de história de amor entre o Aragorn e a Arwen (Liv Tyler) não interessa nem ao menino Jesus. E a loira que se mete no caminho. Porquê? 
Ou seja, todas estas partes mortas e que não me interessam poderiam ir todas para uma extended-cut. O filme ficaria mais rápido, mais interessante.


Mas há coisas muito boas neste filme. Nomeadamente, a introdução do Gollum. Todas as suas cenas são bestiais. Os seus diálogos consigo próprio, aliados às expressões do boneco. Confesso que não sei quanto trabalho do actor está ali, mas caramba. Nunca tínhamos visto algo assim. Há alturas em que chegamos a ter pena do "monstro". 
Gosto ainda da amizade que se vai fortalecendo entre o Gimli e o Legolas. Sempre em competição, mas que dariam a vida pelo outro. Essa relação acaba por servir de comic-relief. No entanto, a contagem de corpos durante a batalha principal era desnecessária. O tom dessas cenas não se enquadravam na batalha. Ainda assim, e durante a batalha de Elm´s Deep há o momento mais WTF do filme. Legolas pega numa espécie de prancha e desliza escadas abaixo enquanto dispara umas flechas. Bestial.
Depois o filme termina com um discurso do melhor personagem, o Sam, para o Frodo: «There's some good in this world, Mr. Frodo. And it's worth fighting for

Desta vez fui precavido para o filme, sem grandes bebidas para aguentar sem ter de ir à casa-de-banho. 
O filme acaba por ser o pior dos 3, mas ainda assim muito razoável. Não fossem as partes aborrecidas e teríamos aqui um grande filme de acção e fantasia.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

THE LORD OF THE RINGS: THE FELLOWSHIP OF THE RING (2001)


(SPOILERS MAIS À FRENTE)
Estive quase para não escrever nada sobre a trilogia de Peter Jackson. Porque acho que não tenho nada de novo para dizer que ainda não tenha sido dito milhares de vezes e de forma mais eloquente que a minha. Mas depois pensei: "Caga nisso... o blog é teu e se te apetece escrever, força nisso".
Confesso a minha ignorância. Antes dos filmes, nunca tinha ouvido falar das obras literárias do Tolkien.
Hoje ainda me lembro do primeiro contacto que tive com este filme. Meses antes de estrear (provavelmente mais de um ano), eu era comprador da extinta revista Premiere (a edição portuguesa). E numa das edições eram abordados os filmes a ter em conta no futuro. Um dos filmes era este The Fellowship of the Ring. Vinha acompanhado com uma imagem. Ainda me lembro que era uma fotografia de um Orc. Essa espécie de monstro foi a primeira imagem que tive do filme. E foi essa fotografia que me chamou logo a atenção. Achava o raio da caracterização daquele bicho tão assustadoramente boa, que fiquei ansioso, mesmo sem saber nada da história.
Passaram meses e meses de espera e lá estreou o filme. Eu e mais uns colegas da escola lá fomos a uma matiné ver o filme. Conselho de um velho sábio para todos os leitores: quando vão ver um filme de 3 horas, evitem levar copos de litro de Sprite. A certa altura vão ficar apertadinhos e depois não querem deixar 5 minutos para ir mijar. Sim, eu aguentei-me forte, sem largar uma gota que fosse. Mas mal começaram os créditos, aquilo é que foi correr até ao WC. Nem o Bolt me apanhava. 


Vontades de mijar à parte, o que sobressai do filme? Muita coisa. E um dos problemas do filme é mesmo paradoxalmente esse. Há demasiada coisa a acontecer. Ou melhor, demasiados personagens e demasiados locais com nomes esquisitos que não é fácil acompanhar. A certa altura já confundia alguns personagens. Mas isso se calhar é um problema só meu, que tenho um nível de atenção de uma criança de 5 anos. E depois são 3 horas de filme, na versão de cinema. Parece que há uma versão de cerca de 4 horas que nunca vi. Ora, para aguentar 3 horas de filme é preciso que o ritmo não adormeça muito. E há ali partes que era capaz de cortar, mas se me perguntarem quais, eu não sei responder, pois poderia perder o fio à meada.

Depois há muita coisa realmente positiva no filme. Desde logo a arte do detalhe. Nomeadamente nos cenários e caracterização dos personagens. Depois, os efeitos visuais. É certo que há muito CGI, mas todos eles são conjugados com muitos efeitos práticos e que, mesmo sendo um filme de fantasia, são super-realistas. A importância do detalhe chega mesmo à linguagem. Mesmo que seja 90% em inglês, temos ainda uma língua criada de propósito para o filme. Os elfos falam assim numa língua esquisita. 

Momentos cool e WTF deste primeiro filme. Apesar do Legolas ter aquele ar de coninhas com cabelinho loiro, as cenas em que dispara flechas como se não houvesse amanhã são espectaculares. Ya, o Robin Hood é mais antigo, mas o Legolas é o maior. E depois a cena, quase no final da morte do Boromir. ÉPICA. Ajuda o facto do actor ser o Sean Bean, mas caramba, com duas flechas no lombo e ainda despacha mais uns quantos orcs. Aliado a isto, os putos Merry e Pippin a fazerem-se à luta para o tentar salvar, quando momentos antes já se tinham sacrificado para ajudar o Frodo a fugir. Para mim, é talvez a melhor cena do filme. 

Basicamente trata-se de um filme sobre lealdade, sacrifício e amizade. E por muito que o Aragorn e o Frodo sejam heróis, para mim o verdadeiro herói do filme e da trilogia é Sam, o melhor amigo. Isso é algo que se vai notar mais à frente na trilogia, mas veja-se uma das cenas finais do filme. Frodo quer partir sozinho até Mordor. Vai de barco. Sam quer apanhá-lo e acompanhá-lo. Mesmo sem saber nadar ele faz-se ao rio. Ele fez a promessa de não largar Frodo e é isso que ele faz em mais de 9 horas de trilogia. Essa cena chega a ser comovente.

O filme termina com uma frase filha da puta e passo a citar: "Let's hunt some orc". Como que a dizer que os filmes seguintes iríamos ter acção a rodos. 


quinta-feira, 6 de outubro de 2016

LONE SURVIVOR (2013)


Não fui à tropa. Nem sequer à inspecção quando era obrigatória. Sempre me senti um desertor com medo que um general chegasse a minha casa para me obrigar a calçar as botas e partir para a "guerra". Isso nunca aconteceu. Nunca peguei numa arma. Mas também acho que se chegasse a ir a uma inspecção, me mandavam logo a seguir para casa. Mal consigo fazer uma flexão, quanto mais carregar com uma mochila com 370 quilos às costas. Tive amigos que fizeram vida militar e as coisas que contam não me cativam. E isso passa para o cinema. O género de "filme de guerra" não é o meu favorito. Ou é um clássico (e mesmo assim não os vi a todos) como o Platoon ou o Apocalipse Now, ou então tem de ser feito pelo Spielberg.

Há uns tempos estava a ver um podcast que acompanho, e o tema do episódio era este Lone Survivor. E os gajos que comentavam o filme falavam maravilhas. Então lá me conseguiram convencer a ver o filme. Normalmente seria um filme que me passaria ao lado. Epa, e ainda bem que fui convencido a ver. Há aqui filmaço. Sim, é patriótico à brava, mas caramba, é dos filmes mais intensos que vi nos últimos tempos. Parece que é baseado em factos verídicos, neste caso a Operação Red Wings. Aqui, um grupo de militares está no Afeganistão para capturar um líder talibã. 

Negativo do filme: o raio do título é spoiler (para quem não conhece a história). Ora, temos um grupo de pessoas em batalha e o título é Lone Survivor. Ficamos logo a saber que só sobrevive um. Curiosamente é um dos produtores do filme. 


Depois temos duas horas de filme que passam a correr. Passando a parte da apresentação da missão, temos um filme que é basicamente uma longa cena de acção. Mas é uma das melhores cenas de acção que vi. 
Claro que isso é graças à realização do Peter Berg. E isso é uma surpresa pois o filme anterior do gajo era o inenarrável Battleship, esse pedaço de merda que não merece ser visto por ninguém.
Ajuda o trabalho do elenco, que mesmo não sendo os personagens com mais profundidade do planeta, transmitem o sentido de "brotherhood". E o Mark Wahlberg deve ter tido aqui a melhor performance depois do Boogie Nights e no The Departed.

E é impressão minha ou grande parte do filme é feito de quedas e mais quedas? Foda-se, como é que o gajo chegou vivo ao fim do filme é que eu não sei.

Palavra final para a equipa de maquilhagem, que fizeram ali um serviço que só me apetecia desviar o olhar. 

Hiper-realismo num grande filme de guerra. Ide lá ver isto que merece.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

ESCAPE FROM NEW YORK (1981)


Dia de semana à tarde. Chega-se a casa depois do trabalho. A mulher só chega à noitinha, logo isso é sinal que a televisão e sofá é por minha conta. Cria-se então o ambiente perfeito para sessão de cinema do bom. Fecham-se as janelas, cerveja na mão direita, a mão esquerda enfiada nos calções a para coçar aquela zona entre o tomate esquerdo e a virilha, e DVD no leitor. O que se escolhe? O clássico de Carpenter com o seu actor-fetiche, o Kurt Russell, a fazer de Snake Plissken.
Antes de mais, Carpenter fez um dos dois melhores filmes de terror de sempre: o Halloween (o outro é o The Exorcist). E para mim, por muitos filmes que o Kurt Russell faça, para mim será sempre o Gabriel Cash (Tango & Cash).
Há muito tempo que não via este filme. A memória que tinha é que era um filme de acção non-stop, cheio de cenas de porrada. E não é. 
Mas de que trata o filme? Basicamente, temos um futuro meio apocalíptico, onde a ilha de Manhattan é uma prisão. Lá dentro só existem prisioneiros. O presidente norte-americano acaba lá dentro e é feito prisioneiro. Snake Plissken é chamado para o resgatar. E Snake é sinónimo de estilo. De pala no olho, parece um pirata saído da bando dos Europe. Mas o gaja emanava uma aura de bad-boy durão, que os gajos queriam imitar. Em 1981 eu não era nascido, mas acho que os miúdos desta época devem ter começado a usar palas nos olhos para serem como Snake.  
Por alguma razão, os bandidos deste filme são semelhantes a muitos vilões de filmes dos anos 70/80: são autênticos punks com penteados malucos e cheios de brincos. E agora quando estava a ver o filme, e na cena em que o vilão principal aparece, naquele carro cheio de decoração e com bola de espelhos, eu dava um dedo do pé se o vilão fosse o Snoop Dog. A sério, tinha tudo para ser ele a sair do carro. Só faltava o casaco de pele como um autêntico chulo.


Depois, no que ao elenco diz respeito, uma palavra de apreço para Adrienne Barbeau e o seu decote. É certo que já todos conhecemos as bonitas mamas da Adrienne, mas faltou uma cena de nudez gratuita. Ainda assim, presenteou-nos com um belo decote ao longo de todo o filme.

Referência ainda para a banda-sonora da autoria do Carpenter. Uma obra minimalista como é seu jeito mas que é tão boa.

Parece que existe uma sequela, que nunca vi. Dizem ser uma merda. Confirmam essa informação?

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

DEEPWATER HORIZON (2016)


Hoje não me vou alongar em grandes comentários. Apenas vou deixar algumas considerações.

Para quem não sabe, o filme é sobre o acidente na plataforma petrolífera americana, a Deepwater Horizon, em 2010, que é até hoje o maior acidente do género da história do país.

- O filme passa a correr. Não damos pelo tempo passar, apesar da primeira parte ser de exposição.

- Os gajos da BP são uns grandes filhos da puta.

- Boas interpretações de Mark Wahlberg e sobretudo de Kurt Russell.

- O acidente é retratado de forma hiper-realista e muito bem filmado. A certa altura temos a impressão de estar presente. Pessoalmente, ia desviando a cabeça como se estivesse lá.

- Os gajos da BP são uns grandes cabrões.

- A cena final no hotel é espectacular.

- Já disse que os gajos da BP são uns trastes?

Resumindo, é um filme bom, muito bem filmado. A cinematografia está muito boa. Ao velho que foi dormir para a sala de cinema, cuidado com o ressonar. Apesar de tudo, isso acaba por incomodar um bocadinho. 
E os gajos da BP? Aquilo é gente para barrar o corpo com petróleo e largá-los numa fogueira. (Atenção que não quero incitar à violência. Não leiam as coisas de forma literal)