terça-feira, 20 de novembro de 2018

THE EXORCIST (1973)


Lembram-se da primeira vez que puseram a vista em cima de O Exorcista? Eu acho que deve ser daqueles que conseguimos identificar onde e quando o vimos pela primeira vez. Desde que existe cinema de terror, que os gajos do marketing das produtoras são sempre originais na forma como o vendem, ou seja, basta dizer uma de duas coisas (ou as duas em simultâneo): ou são baseados em eventos reais ou são sempre the scariest movie ever made. Hoje em dia, todos os filmes de terror são sempre os mais aterradores de sempre. Spoiler alert: não são. Engraçado que ainda há quem vá na cantiga. Há uns tempos, numa ida ao cinema, ouvi a frase dita por uma pita com os seus 15 anos: o The Nun é o filme mais aterrador. Claro que tive vontade de lhe dar umas lambadas nas trombas. Contive-me e engoli o vómito que me ia saindo pela boca.
Acontece que o slogan the scariest movie ever made tem servido de promoção nestas últimas décadas ao filme de que vos falo hoje: The Exorcist. E não é que por uma vez o slogan foi bem aplicado!

Voltando à primeira vez: nesse dia, apenas vi o filme por metade. Não o aluguei, não o comprei. Por anos de 1995/1996, numa madrugada em que acordei do nada, ligo a televisão e apanho filme numa sessão tardia. Lembro-me perfeitamente da cena onde estava: a empregada/ama vai chamar o padre porque lhe quer mostrar uma coisa, e não é o seu pipi. Mostra-lhe a miúda com as marcas na pele que dizem help me. Bastou esta cena para ficar agarrado ao filme até ao fim, agarradinho à almofada. Isto para um puto de 13 anos era demasiado pesado. E eu já tinha visto os Rambos todos, Halloweens, Elm Streets e afins. Mas aquilo perturbou-me como nunca tinha sido perturbado com um filme.


O filme começa com uma cena no Iraque onde conhecemos o padre velho (Max Von Sydow). Anda armado em arqueólogo, e encontra um artefacto que simboliza uma espécie de demónio. De realçar as expressões do padre que espelha um medo constante. Para que serviu toda esta cena? Não sei bem, mas aquele ambiente envolto do Mal estabelece logo o tom do filme.
Passamos então para a a cidade de Washington para conhecermos mãe (Ellen Burstyn), filha (Linda Blair) e a casa que vai apoquentar a família. A mãe é uma actriz famosa e na cena em que ela está a filmar conhecemos o Padre Karras (Jason Miller). Hoje, com olhos de adulto, vejo que este é um filme mais sobre o seu personagem e o seu caminho/crescimento.

«You're gonna die up there!»

Entretanto, a miúda começa a ter comportamentos estranhos. A cena em que a Reagan se mija em frente à mãe e convidados durante uma festa lá em casa ainda me atormenta. E aqui começa o descer aos infernos: testes médicos atrás de testes médicos. Até a solução passar por um exorcismo e pronto... a partir daqui é aquilo que se sabe. Cenas que chocam: masturbação com a cruz deve ter chocados todas as mentes dos anos 70. Ainda hoje deve chocar...
Depois o filme está todo muito bem filmado e construído. Se o filme fosse feito hoje era quase todo ele só com a possessão e exorcismo. Basicamente como são as toneladas de filmes que se fizeram depois deste. E onde 99% são merda. Aqui tudo é construído com um propósito e de forma extremamente realista. Está de tal forma feito, que acabamos o filme a pensar que a história se poderia passar na casa ao lado da nossa. Esse build-up torna tudo muito mais intenso, provocador, e outra vez, realista.


Em última análise acaba por ser um filme sobre a culpa e absolvição, daí achar que o Padre Karras acaba por ser o personagem principal. E a cena depois do seu sacrifício (onde se atira da janela já possuído pelo demónio Pazuzu), onde o seu amigo e padre o absolve de todos os pecados (a história toda com a mãe dele) é um fechar perfeito para o filme.

Para concluir, sim, é o meu filme de terror favorito. Talvez não tenha sido o que vi mais vezes, pela simples razão que é o que mais deixa perturbado. E não tem nada a ver com religião. Deve ser visto como o único filme sério sobre possessões. Estes novos, são só wannabes... que não aprenderam nada de como fazer um filme deste género.
O trabalho de casa de quem ler este comentário é dar-me exemplos que me contrariem. Dêem-me filmes bons e sérios sobre esta temática. E escusam de pegar no universo Conjuring e afins.


quinta-feira, 15 de novembro de 2018

POLTERGEIST (1982)


«They're here!»

1982 foi talvez o melhor ano de sempre.... Sim, foi nesse ano que nasceu a figura que aqui vos escreve. E se isso não fosse razão suficiente, eis que no cinema também surgiram clássicos da nossa vida, senão vejamos: 1982 foi o ano que nos deu o primeiro Rambo (nasceram muitos pêlos aos miúdos ao ver este filme), ET fez chorar toda a gente, Blade Runner fracassou nas bilheteiras mas é hoje um dos maiores clássicos da ficção-científica, John Carpenter aterrorizava com The Thing, Rocky andava à chapada com Hulk Hogan e Mr. T, Dustin Hoffman andava a disfarçar-se de mulher em Tootsie, Jason Voorhees arranjava a máscara que hoje conhecemos em Friday the 13th Part 3, viajamos quase até ao sol em Aeroplano 2, etc etc... Ah, e trouxe o filme que nos traz hoje. Poltergeist era "realizado" por Spielberg. O mestre não podia assinar contratualmente nenhum filme à custa de ET, por isso meteu lá o Tobe Hooper... Mas o filme respira Spielberg por todos os poros.

E será que o filme merece o estatuto de clássico?

Confesso que já vi este filme tarde na minha vida. Deveria ter uns 12/13 anos. Mas vi-o nas melhores condições possíveis: sozinho, de madrugada, e com mau tempo lá fora. E devo dizer que não cheguei a borrar as cuecas, mas andei lá perto. Principalmente com uma cena que me marcou: a filha da puta da árvore que ataca o miúdo enquanto há ali trovoada. É que o build-up dessa cena é do caraças. Começa com o puto com medo da trovoada, e onde o pai lhe ensina como ver se a tempestade se aproxima ou afasta. Depois a presença da árvore ao lado da casa que mete medo ao puto. Não gosta das formas que ela tem. A acrescentar a isto tudo, o puto tem medo de um palhaço que é dele. (Bem, o puto também é um medricas do caralho que tem medo de tudo).


O filme em si, segue a linha dos filmes de casas assombradas. Fenómenos estranhos começam a acontecer numa casa. Depois as coisas agravam-se. Normalmente existem crianças que são mais afectadas: aqui é uma miúda loira que é raptada para dentro da televisão. Entretanto aparecem uns caça-fantasmas/espíritos/exorcistas. Resolvem a situação, ninguém morre e fim da história. Sim, a receita é sempre a mesma, mas aqui é diferente. Nem que seja porque foi feito com o bom gosto e savoir faire de Spielberg. E mais, este é o paizinho de todos os Conjurings, Insidious ou Actividades Paranormais que existem hoje em dia.

De realçar ainda a banda-sonora do filme do Jerry Goldsmith. O tema principal é tão melódico e parece que estamos num filme familiar mas com um tom que apoquenta, pelo menos a mim. (Também acontece porque devo associar esta música ao filme, pelo que sei o que se passa).
E engraçado pensar que isto se passava num tempo em que a televisão encerrava a emissão ao som do hino americano.