quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

ALIEN (1979; 1986; 1992; 1997)


IN SPACE NO ONE CAN HEAR YOU SCREAM

Começar um texto sobre a saga Alien com a sua famosa tagline deve ser do mais cliché que existe. Como sou desses tipos clichés, sigo essa moda.

Um gajo como eu, que nasceu no início dos anos 80, e que só começou a ver filmes para adultos (de todo o género) no início dos 90, só teve a possibilidade de ver a saga Alien em casa, numa televisão Sony Black Trinitron. Nomeadamente os 3 primeiros filmes, cujas cassetes VHS (que já não existem) foram passadas vezes sem conta. Era uma altura em que víamos os filmes repetidamente. E nós não éramos esquisitos. Víamos toda a merda que aparecia: boa ou má. No entanto, sabíamos reconhecer o que era bom e o que era mau. Quando hoje em dia, vejo adultos que dizem que as Sombras de Grey é um grande filme, dá-me logo uma comichão no cérebro. Eu sei que cada um tem a sua opinião e temos de respeitar. Eu sei disso tudo... mas isso não me impede de achar que uma pessoa que vê qualidades cinematográficas nesse pedaço de bosta, tenha apenas um neurónio e mal utilizado. 
Bem, mas estou a desviar-me do que me trouxe aqui hoje. O que me traz aqui é essa saga de terror/ ficção científica/ acção, que é ALIEN. São quatro filmes. Todos eles muito diferentes uns dos outros. Vamos esquecer esse bocado de merda (não posso utilizar a palavra "bosta" outra vez... questões de repetição) que foi Prometeus, aquele que considero a minha maior desilusão ao nível do cinema. 
Vem agora piada fácil e batida: Prometeus prometeu mas não cumpriu. Uma espécie de derivação filosófica sobre a origem da vida e não sei mais o quê. Não é muito difícil fazer um filme Alien

1 ou mais bichos + grupo de humanos e um robot = chacina. 

Claro que depois podemos acrescentar alguns elementos sobre quem são realmente os monstros. É que os humanos podem ser ainda mais vis que os aliens.

Mas dizia eu que a saga era então composta por 4 filmes: 2 excelentes e 2 não tão excelentes. Dentro dos excelentes (primeiro e segundo), houve um crítico americano que dizia (não me recordo quem) algo muito interessante: o ser-humano pode distinguir-se em dois tipos - os que preferem o filme do Ridley Scott e os outros que preferem o do James Cameron. Mas o que temos nesta saga são quatro realizadores, cada um com a sua visão deste universo. No caso do David Fincher foi mais uma visão dos estúdios do que propriamente e dele. 

Mas vamos lá rever o que cada um significou para mim. É possível que haja SPOILERS, mas estou-me a cagar. Isto são filmes que têm entre 20 e 40 anos.
(NB - serão abordadas as edições especiais, ou director's cut. No caso do terceiro filme, chama-se assembly cut pois o realizador não quis ter nada com isso.)

ALIEN - O OITAVO PASSAGEIRO (1979)


Uma coisa que destaco neste filme é o ritmo, nomeadamente da primeira parte. Os primeiros 6 minutos são gastos nos créditos e "apresentação" da nave Nostromo. A tripulação está em sono criogénico e só acorda aos 6 minutos. Está criado o ambiente. O Ridley Scott a mostrar que não tem medo de levar o seu tempo. Hoje em dia, onde tudo tem de ser imediato, seria praticamente impossível fazer um filme assim. 
Depois de acordarem, vemos conversas triviais de uma tripulação adulta. Uns falam de dinheiro e bónus que querem receber. Outros mostram ansiedade para voltar a casa. E lá entre os sete passageiros está a Ripley. Aqui é só mais uma. Não tem nem mais nem menos destaque em relação aos outros.
A tripulação recebe ordens para ir investigar um planeta, aparentemente desabitado. E é aí que o Kane (John Hurt) descobre uma série de ovos. Só passada mais de meia hora de filme é que se dá o episódio com o facehugger (termo usado ao longo dos filmes para definir o bicho que se agarra à cara das pessoas). Kane é então atacado e é levado de volta para a Nostromo. Aqui vamos perceber quem é o filho da puta da tripulação. Há sempre um. Neste caso é Ash (Ian Holm), o gajo da ciência. À força de querer saber que bicho é aquele que Ash traz no focinho, põe em perigo toda a tripulação, desrespeitando as regras da nave. Acontece que depois o facehugger despega-se da cara do Kane e tudo corre bem. Até que.......... numa cena banal em que estão todos à mesa em amena cavaqueira, Kane começa a sentir-se mal e pumba...... ainda hoje essa cena me arrepia. O alien, o oitavo passageiro (se excluirmos o gato) sai pelo peito do pobre coitado e desaparece. 
Um mecanismo encontrado para não utilizarem armas neste filme: o raio do bicho tem ácido em vez de sangue. Foi uma bela forma de impedir o uso de armas que poderia facilitar o desenlace. Assim torna o bicho ainda mais aterrador do que já é. E o cabrão do Alien é mesmo aterrador. Levanto-me a aplaudir o criador do animal (pesquisai por H.R. Giger). E de realçar que o raio do Alien cresce como o caralho em pouco tempo. Começa por ser do tamanho de um chihuahua para depois, em poucas horas ser maior que um humano.


A partir daqui é a recompensa total pelo ritmo mais lento da primeira parte.  A edição especial do filme, alterada para DVD e Bluray, tem umas cenas diferentes, como por exemplo na morte do Parker (Yaphet Kotto). Aqui morre junto da Lambert (Veronica Cartwright).
Lá pelo meio anda um gato, só para provocar uns sustos. Mas que raio anda um gato a fazer numa nave, numa missão pelo Espaço? 

Em jeito de conclusão, continua a ser um filme que me arrepia a espinha. Aquele ambiente claustrofóbico é medonho, no bom sentido. A Ripley começa por ser apenas mais uma para se ir destacando e ser a única (com o gato) a sobreviver.

ALIENS - O RE(E)CONTRO FINAL (1986)


Afinal, o título português é "Reecontro" ou "Recontro"? É que já vi as duas terminologias.

Só agora é que me dei conta que a separar este filme do primeiro estão 7 anos. Não deixa de ser muito tempo entre sequelas. 
E o que faz James Cameron nesta sequela? Sempre ouvi dizer que em equipa que ganha não se mexe. Pois, mas aqui o Cameron manda tudo às urtigas e faz algo completamente refrescante. Se no primeiro filme tínhamos terror puro e "claustrofobia", aqui isso é substituído por algum terror e acção pura e dura. 
Ripley andou à deriva nos espaço mais de 50 anos, e este filme começa com o seu resgate. Aqui ela é o centro das atenções. 
Bem, uma palavra que define este filme, e creio que é o termo técnico para isso: BADASS. Mas isso é uma coisa que define grande parte dos filmes de James Cameron. Isso e ............................ Bill Paxton. O gajo deve fazer uns broches muito bons ao Cameron para poder entrar em quase todos os grandes filmes dele: The Terminator (check), Aliens (check), True Lies (check), Titanic (check), Ghosts of the Abyss (check). No entanto, convenhamos que o gajo está impecável neste filme.
Sobre o elenco deste filme, o que podemos dizer é que é tão anos 80. Michael Biehn, Paul Reiser, Lance Henriksen... só estes três nomes são sinónimo de "eighties". E Paul Reiser é aquele gajo com ar de quem não faz mal a uma mosca e no fim acaba por ser o cabrão lá do sítio. Manipulador, ambicioso, que vê nisto tudo oportunidade de fazer cifrões. Depois temos os Marines, e aqui destaque para o Sargento Apone (Al Matthews), que é o típico chefe de pelotão de charuto na boca e que grita e fala mal com os seus soldados. Dentro dos soldados destaque para a Vasquez (Jenette Goldstein) e o Hudson (Bill Paxton). A Vasquez é a cavalona macho-latina que mete medo a muitos homens mas tão cativante que torcemos sempre por ela. Antes de haver Michelle Rodriquez nestes papéis, existia uma Jenette. O Hudson é o gajo que entra em pânico e mais choramingas. Acaba por ser o mais realista. Por muito machões que possam ser, se víssemos dezenas daqueles bichos a dizimar a nossa equipa, também acho que choramingávamos um bocadinho.
Dentro daquele grupo de personagens cheios de testosterona e vontade de matar aliens, a mais inteligente acaba por ser a Newt, a miúda que anda por lá. Como é que ela se safa dos bichos: a fugir e a esconder, que é o que se deve fazer quando encontramos um Alien.
Esta edição especial é mais completa... acrescenta umas cenas descartáveis mas interessantes, nomeadamente com a família da miúda quando encontram os monstros.
Depois há cenas que continuam icónicas ainda hoje: ver o alien a rasgar o Bishop ao meio é sempre bonito. A cena do "sacrifício" da Vasquez que se faz explodir quando vê que não consegue escapar. A miúda no esgoto e ver o alien surgir em silêncio por trás dela ainda me arrepia. E claro, ver Ripley a proferir as míticas palavras: Get away from her, you bitch.
No geral, este é um filmaço 5 estrelas. Não consigo apontar um defeito que seja. Tem personagens com as quais simpatizamos, outras que gostamos de odiar. Interpretações impecáveis. A própria Sigourney Weaver foi nomeada ao Óscar de melhor actriz. Tem acção e suspense.. tudo isso muito bem realizado.
Um daqueles clássicos que quando perguntamos quais os melhores filmes de acção/ sci fi, este vem sempre à baila como exemplo máximo disso.

ALIEN 3 - A DESFORRA (1992)


Novo filme da saga, novo realizador. Desta vez, os estúdios deveriam querer ser eles a realizar, então vão buscar alguém que nunca tinha realizado um filme. Um novato, vindo dos telediscos da Madonna. O bode expiatório foi David Fincher. Quando uma década depois da estreia deste Alien 3 fizeram a box-set com as director's cut dos 4 filmes, o gajo não quis ter nada a ver com isso. Então fizeram aquilo a que chamaram Assembly Cut. No geral é o mesmo filme mas completamente diferente. Ou seja, nem a versão de cinema, nem esta edição especial é a visão que o Fincher queria dar ao filme.
Bem, a principal diferença entre as duas versões do filme é o tom ou temática. Nesta assembly cut, a religião está muito mais presente, e isso sente-se nas personagens e no ambiente criado (veja-se a banda-sonora).
Depois alteraram completamente algumas cenas. E há vários exemplos claros disso. A começar logo na cena inicial. O filme passa-se todo num planeta que é uma prisão e refinaria. Enquanto que no original, a Ripley era encontrada na nave (onde terminou o segundo filme), aqui é encontrada numa praia desse planeta. Não percebi a razão dessa alteração. Todo o início do filme é diferente.
A famosa cena do alien a sair do cão foi também ela substituída. Não percebi se foi por ser um cão, que normalmente é fofo e não podemos ferir susceptibilidades das pessoas. Também pode estar relacionado com o tamanho. É mais credível um alien sair de um animal grande como um búfalo (pelo menos acho que era um búfalo) do que um cão. E ninguém tem pena de búfalos. Aliás, devem fazer bons bifes.
Bem, este filme pretende voltar às origens. Se no filme anterior existiam dezenas e dezenas de aliens, aqui voltamos a ter só um, num espaço fechado com uns prisioneiros lá dentro. E eu gosto disso. Como existem 25 prisioneiros, e cada um pior que o outro, não nos importamos que sejam comidos, trucidados, degolados por um alien. São a típica carne para canhão.
Mas este filme tem elementos novos. A  certa altura, o alien encurrala a Ripley, no entanto não a mata. A partir daqui sabemos que algo não está bem e que ela deve estar "prenha" de um bicho daqueles.
No geral, prefiro esta assembly cut à versão do cinema (que vi vezes sem conta). Acontece que nesta versão há mais daquilo a que os anglófonos chamam de character development. Temos uma percepção maior das motivações das personagens o que nos ajuda a perceber algumas decisões tomadas. Ficamos por exemplo a saber por que razão o gajo maluquinho (que a certa altura solta o alien que estava preso) é tão odiado pelos parceiros na prisão. E isso é positivo.
Como a temática do filme é mais religiosa, o personagem do Dillon (Charles S. Dutton) ganha importância. O gajo é um prisioneiro mas ao mesmo tempo uma espécie pastor daquele grupo que segue uma crença que se pode dizer que é um Cristianismo Apocalíptico.
(Aquele CGI nos aliens podia ser trabalhado ou substituído por um efeito prático.)


ALIEN: O REGRESSO (1997)


Este quarto e último filme (para já) da saga tem um lugar especial no meu coração de amante de cinema pop. É que foi o único filme do Alien que vi no cinema. E foi nesta altura em que comecei a ir ao cinema regularmente. A mesada servia para isso. Normalmente ia às matinés do Casino Figueira. E foi lá que vi este filme. Claro que nesta altura já tinha visto os três anteriores muitas vezes. E sim, mesmo sendo o mais fraco dos 4, eu gosto bastante do que Jeunet fez aqui. Nos anos 90 eu não percebia muito de cinema (ainda hoje percebo pouco), mas agora ao rever o filme, vejo que talvez tenham ido longe demais. Acho que esticaram a corda um pouquinho a mais. A começar logo pela premissa. Ora, os gajos tinham a Sigourney Weaver disponível para fazer o filme, mesmo que a personagem dela tenha morrido no filme anterior. Aliás, não só tinha morrido como morreu de uma forma que o corpo dela desapareceu na totalidade, derretido numa fornalha. Mas lá arranjaram uma solução e venha de lá esse clone. E não é um clone qualquer. Além do ADN da Ripley, isso vem misturado com o ADN do bicho e pumba, Ripley (ou Número 8 - podia ser uma alusão ao Oitavo Passageiro) está viva outra vez, e com força sobre-humana, sangue misturado com ácido. Isto assim pode parecer ridículo (e se calhar é), mas na altura engoli aquilo tudo sem me importar (inserir piada brejeira com a utilização da expressão "engoli tudo"). A juntar a isto, a empresa que a clonou está a domesticar Aliens. Ou pelo menos a tentar. Por isso, se acharam parvo os gajos do Jurassic World domesticarem Velociraptors, pensem que eles não foram pioneiros nessas más ideias.
Pensem que este filme foi escrito pelo Joss Whedon, e este gajo é capaz do melhor (Buffy, Toy Story, etc) e do pior (The Avengers).
Ainda assim, este filme tem várias cenas memoráveis: um alien a matar outro alien para com o sangue (ácido) deste poder escapar-se. Todas as cenas do Ron Perlman (aquela em que numa escada, baixa-se e com duas pistolas dispara contra o alien que os persegue). A cena debaixo de água está um espectáculo de tão bem filmada que está.
Só que para cada uma destas cenas boas, há outras que são no mínimo constrangedoras. É o caso de uma cena em que a Ripley contracena com um dos monstros, e esse monstro faz uma "cara" em que quase chegamos a ter pena dele. 
É um filme que se nota claramente que é do Jean Pierre Jeunet. Aqueles planos em close-up das caras dos personagens, a fotografia meio escura, ou seja, toda a cinematografia é imagem de marca do Jeunet. E quem conhece alguns dos filmes dele, nota logo isso (Delicatessen, Micmacs, A Cidade das Crianças Perdidas, etc).
O filme acaba na Terra, num futuro pós-apocalíptico com a Torre Eiffel destruída em pano de fundo. E quem sobrevive no filme: 1 clone, um aleijado de cadeira de rodas, 1 robot....... e 1 Ron Perlman
(Sou só eu a achar que Ron Perlman deveria entrar em TODOS os filmes?) 

Nota final: Depois destes 4 filmes, ainda saíram mais filmes com o Alien: dois filmes do Alien Vs Predator (o segundo faz o primeiro parecer muito bom), e um Prometheus, que como já disse, é um saco de fezes. Entretanto, daqui a uns meses estreia Alien: Covenant.

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