domingo, 3 de novembro de 2024

HALLOWEEN (2007 - 2009)

A versão de Halloween de 2007, realizada por Rob Zombie, é uma montanha-russa de brutalidade e desconforto que troca o suspense subtil do clássico de John Carpenter por um banho de sangue explícito e um retrato quase caricatural de degradação social. O filme começa com o jovem Michael Myers, de máscara de palhaço, a matar ratinhos inocentes. Já percebemos que o clima é pesado. E a família? Essa é o pior pesadelo de qualquer terapeuta: uma mãe stripper, um padrasto abusivo e uma irmã que mal lhe dá atenção. Numa casa que parece saída de um pesadelo, fica claro que a infância de Myers é tão acolhedora como um campo minado.

Pode ser que o ambiente na escola seja melhor para Myers. Nada disso... Ele sofre bullying pesado... mas em vez de se limitar a guardar a raiva para si, ele deita tudo cá para fora. O que acaba por ser terapêutico. Ele segue um dos valentões e mata-o violentamente à paulada, ainda com a máscara de palhaço. Rob Zombie deixa claro que a palavra "subtileza" não faz parte do seu vocabulário: o suspense psicológico do filme original vai às urtigas, trocado por uma estética de violência crua e cenas gráficas de violência em câmera lenta.

Mas este show de horror está só a começar. O jovem Michael, agora totalmente à solta, amarra o padrasto ao sofá e degola-o sem hesitar. De seguida, ele vai ao quarto da irmã, e, num acto macabro, troca de máscara — é a primeira vez que vemos a clássica máscara branca — e mata-a à facada. Um detalhe esquisito? Ver uma criança pequena a usar a máscara clássica de Myers cria um efeito perturbador e desconcertante. Depois ele pega na irmã bebé, vai para o alpendre e espera pela mãe, como se nada fosse.

Então, o inevitável acontece: Michael é internado em Smith's Grove e dado como responsável pelos assassinatos. Começa a terapia com o Dr. Loomis, um psicólogo de crianças que até parece ter boa intenção. O próprio Loomis tenta entender o que há de errado com o puto, mas é inútil. Michael vai afundando cada vez mais numa espiral de violência e apatia, matando até uma enfermeira com um garfo. E, quando a mãe se suicida, a possibilidade de redenção parece desaparecer.

Após 38 minutos de carnificina e desgraça, avançamos 15 anos e encontramos um Michael Myers adulto — ou melhor, um gigante que parece o Hulk em modo psicopata. Neste momento, Loomis despede-se de Myers e decide lucrar com o os acontecimentos, lançando um livro sobre o caso. Myers mata mais alguns personagens secundários de forma casual. E claro, porque o Zombie não economiza no desconforto, temos uma cena absolutamente desnecessária de guardas da instituição que tentam abusar de uma paciente, mas que acaba em vingança sangrenta quando Michael, finalmente, escapa.

Finalmente, aos 54 minutos, conhecemos a final-girl, Laurie, que vive numa casa normal com uma família decente (dá para respirar no meio de tanto caos). Myers regressa à casa de infância em busca da sua máscara, e o tema clássico de Carpenter toca ao fundo — um aceno ao filme original, mas que logo é deixado de lado por mais mortes estilizadas e em modo shaky-cam.

Os momentos que homenageiam o original são, na verdade, "homenagens em esteroides": Myers mata o namorado de uma das amigas de Laurie, pendura-o na parede e, com lençol e óculos, aparece na frente da vítima. É uma referência divertida, mas exagerada. Até o Dr. Loomis acaba se tornando uma versão meio cínica, quase uma "Gale Weathers" (a repórter sensacionalista do Scream), disposto a explorar o terror para ganhar fama e dólares. Por outras palavras, o Loomis de Zombie parece pouco interessado no bem-estar de Myers; ele quer vender livros.

Rob Zombie reinventa a saga de Michael Myers com uma abordagem exagerada, onde toda a "mística" do personagem se dissolve num cenário hiper-realista. No filme original, Myers era um símbolo do mal inexplicável — qualquer pessoa, em teoria, poderia tornar-se num assassino sem razão aparente. Mas na visão de Zombie, ele é mais uma vítima de uma vida miserável, seguindo todos os clichés de um "retrato de um psicopata".

No fundo, Rob Zombie acaba por parecer mais adequado a um filme do Leatherface do que do Michael Myers. Todo o horror psicológico dá lugar à violência explícita e à exploração gráfica do trauma e da decadência humana. Claro, para quem gosta desse estilo de horror cru e visceral, é um prato cheio. Mas para quem curte a mística e a atmosfera sombria do original de Carpenter, essa abordagem pode soar como um exagero completo, onde o que era "terror" vira apenas "choque".

Eu estou do lado dos que defende Rob Zombie e do risco que tomou neste remake. Pode não acertar sempre, mas não copiou.

HALLOWEEN 2 (2009)
(texto escrito em 2019)

EM DEFESA DE ROB ZOMBIE

Bem, não é que o Zombie precise que venha alguém defendê-lo, mas vamos lá revisitar Halloween 2. 
Depois da saga de Halloween ter sido morta por Busta Rhymes e companhia no Halloween Resurrection, alguém tinha de se chegar à frente para tentar reanimar ou ressuscitar uma saga que John Carpenter criou com mãos de mestre. Qualquer realizador que fosse escolhido, teria sempre que fazer algo especial. Calhou a Rob Zombie a missão de fazer um remake. E mais valia chamar-se Halloween Origins. Foi imensamente criticado nesse remake, nomeadamente por se focarem demasiado no Michael Myers enquanto garoto e a tentar explicar a razão por que se tornou na Shape (ou Boogeyman). Apesar das críticas, o filme fez dinheiro suficiente (até então seria o mais rentável da saga) para justificar uma sequela directa. 
Eis que, dois anos volvidos, chega esta sequela que me traz aqui hoje. E desde já me confesso: tinha gostado bastante do primeiro, e a primeira vez que vi este 2, odiei. Mas odiei mesmo. Era daqueles haters intragáveis. Com o tempo, aconteceu uma coisa estranha: o ódio foi-se transformando, e é hoje, para mim, o melhor filme da saga (se excluirmos o clássico de Carpenter).
É que o filme tem ali tantas coisas boas. 

Vá, se era para fazer um remake de um daqueles filmes que é considerado dos melhores de sempre no género, então que seja algo diferente. E não podem acusar o Zombie de copiar o Carpenter. Criou algo à sua imagem. Podemos não gostar, mas diferente. 
Ora para este segundo, elevou ainda mais a fasquia. 

SPOILERS

O início do filme é um piscar de olho ao Halloween 2 "original", que se passava todo num hospital. Aqui, esse início também é num hospital mas tudo não passou de um sonho. Não nos apercebemos logo que se trata de um sonho, mas vão sendo deixadas pistas, nomeadamente o facto de estar sempre a tocar a mesma música dos Moody Blues na televisão. E essa música torna essa cena ainda mais "creepy", pois é tão contrária ao que se está a passar. Ah, lá pelo meio anda a Octavia Spencer como enfermeira a ser morta pelo Myers. No fim a Laurie Strode acorda e fim de cena.

Falemos então da Laurie Strode. Pode ser uma heresia, mas eu prefiro esta versão da personagem do que versão da Jamie Lee Curtis. Está completamente traumatizada com os eventos do primeiro filme e isso nota-se. 

POSITIVO

- Laurie Strode (Scout Taylor-Compton): personagem muito mais interessante e desenvolvida que a Laurie do passado.

- Annie Bracket (Danielle Harris): a melhor amiga que atura os traumas de Laurie, e que tem das mortes mais dramáticas de todo o franchise. Ah, e foi tão bom ver o regresso da actriz à saga depois de ter sido a protagonista do 4 e 5.

- Sheriff Lee Bracket (Brad Douriff): quando vê a filha morta, essa cena dá cabo de mim. Uma espécie de murro no estômago.

- Michael Myers (Tyler Mane): percebo quem não goste desta versão do Michael, mas é refrescante ver algo completamente diferente. Vemos sem máscara durante grande parte do filme. Ele é uma espécie de vagabundo barbudo, que não tem problemas em matar um cão para se alimentar, mas cada vez que coloca a máscara, sabemos que vem aí chacina. E já agora, creio que deve ser o único filme onde o Michael fala e grunhe.

- O filme é muito visual, explícito, visceral. É capaz de nos deixar mal dispostos.

NEGATIVO

- Dr. Loomis (Malcolm McDowell): aqui é um completo idiota, que quer amealhar dinheiro à custa do sofrimento. Passa o filme em palestras e programas de televisão a vender o seu livro e a ser uma espécie de escumalha para todos.

- O raio do Cavalo Branco: eu sei que deve ser metáfora para muita coisa, mas não é preciso tanto. 

Acabo com este ponto negativo, mas tenho de dizer em bom português: este filme é "fucking awesome".

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