Sejamos sinceros, se há algo que define Moonraker (1979), além da capacidade de desafiar aquilo que é o "suspension of disbelief", é o facto de levar James Bond a novos patamares – literalmente, até ao espaço! O charme de Roger Moore é algo que ninguém lho rouba, sempre com o ar de quem parece ter acabado de sair de um anúncio de whiskey. Depois, digamos que este filme mais parece um do género do Johnny English que um Bond a sério.
O filme começa logo em grande estilo com uma cena de queda livre que desafia qualquer lógica. Ora, o Bond é empurrado de um avião sem paraquedas e, em vez de entrar em pânico como qualquer ser humano normal, faz acrobacias no ar para roubar um paraquedas no último segundo. Qual Tom Cruise, qual quê... Isto é bem ao estilo de Missão impossível. Mas para Bond, é só mais um dia de trabalho.
E não podemos ignorar o MVP deste filme, Jaws, o gigante com dentes de aço (que transitou do filme anterior) que passa metade do filme a tentar matar Bond e a outra metade a desenvolver um romance improvável com uma loira franzina... Porquê? A resposta é "e porque não!"
O vilão Hugo Drax, por outro lado, parece um empresário milionário que decidiu que exterminar a humanidade, ao esmo tempo que recriava uma raça perfeita no espaço. Papel que poderia ser interpretado na perfeição hoje em dia pelo Musk ou pelo Trump. O seu plano é ridiculamente exagerado, mas combina bem com o tom do filme. Afinal, temos um vilão com um exército de capangas meio patetas e cães assassinos, que estão lá para protagonizar a cena mais macabra de toda a saga (à excepção daquela tortura que o Daniel Craig sofre no Casino Royale).
E Bond não pode ser Bond sem as suas "girls". Bond é tão bom que pratica o coito em qualquer ponto do planeta – e fora dele. Selvas, aviões, estações espaciais… se existe gravidade ou não, pouco importa. A última cena, com Bond em órbita, é tão absurda que até Q comenta: "My God, Bond is attempting re-entry!" Um trocadilho tão descarado que faria corar o Quim Barreiros.
No fundo, Moonraker é um filme que ultrapassa os limites do ridículo e entra diretamente na categoria de "tão mau que é bom". E essa é a beleza deste filme: é uma paródia involuntária de si mesmo, um espetáculo de exageros que nos lembra porque é que amamos (e gozamos com) James Bond.
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