segunda-feira, 26 de setembro de 2016

SE7EN (1995)


É possível que revele algum spoiler, mas se ainda não viram este filmaço com mais de 20 anos, se calhar estão a ler o blog errado. No entanto, considerem-se avisados, pois poderei revelar quem é o assassino por exemplo.
Se7en ou como entrar pela porta grande em Hollywood. Sim, porque este foi o verdadeiro primeiro filme de David Fincher. O Alien 3 tem o nome dele nos créditos, mas o próprio diz (e todos sabemos) que o filme tem pouco ou nada dele.
O que é certo é que este Se7en é um filme do caraças. Desde a primeira vez que o vi, tinha eu uns 14/15 anos. E se na adolescência já achava quer era top, ainda mais agora em idade adulta. Podia ser um banal filme de caça a um serial-killer, mas é muito mais que isso. 
A história é bastante simples: um assassino em série usa como pretexto os sete pecados mortais para cometer os seus crimes. Uma dupla da detectives investiga o caso. E é isto. Uma "banal" história de caça ao homem.
E o que é bom neste filme? Sem querer armar ao pingarelho, eu acho que TUDO funciona no filme. E aqui palavra de apreço por Fincher
Comecemos no genérico inicial. Enquanto passam os créditos, temos imagens cheias de detalhe e requinte do assassino (sem se ver a cara) a preparar mais um dos seus crimes. Aqueles close-ups, as imagens hiper-nítidas. (Lembram-se do genérico da série Dexter? É mais ou menos isso mas muito mais "dark").


Depois pequenas particularidades durante o filme que o fazem distinguir-se de outros. Senão vejamos alguns exemplos de pequenas coisas que enriquecem o filme:
- o som: mesmo dentro dos edifícios é constante o ruído que vem de fora como gritos, sirenes, carros, etc. 
- a cor: sempre em tom escuro num azulado misturado com negro, mas que no final se torna mais claro. Reparem que chove durante o filme todo até à cena em que o assassino se entrega. A partir daí está sempre sol.

Depois temos o elenco: Morgan Freeman com a subtileza que lhe é reconhecida. Brad Pitt nunca esteve tão bem. Kevin Spacey com natureza fria e sem nunca parecer um lunático. 
E finalmente a personagem principal do filme................................................................. a cidade. Primeiro, nunca nos é revelado qual o nome da cidade. E aqui voltamos ao "som". Mesmo quando não temos a cidade como cenário, conseguimos ouvir os sons da cidade. O ambiente chuvoso da cidade que nos faz não gostar dela. Os próprios personagens odeiam lá viver. Morgan Freeman quer chegar à reforma para fugir da cidade; Gwyneth Paltrow revela que odeia lá viver. Ou seja, ela está sempre presente de uma maneira ou de outra. 
Aliás, até diria que um dos temas do filme é a Apatia que se vive nas grandes cidades. É o que leva o Kevin Spacey a cometer os crimes. Quer limpar a cidade dos pecadores, que são tudo menos "inocentes".


Epa, e depois é preciso estômago para ver o filme. É que está feito de tal forma realista que as cenas dos crimes são "pesadas". O que dizer nomeadamente da cena da GULA e da PREGUIÇA? Se numa cena temos um gordo preso à mesa que comeu até rebentar, noutra temos um homem preso à cama para não fugir à preguiça. Foda-se, o raio da cena em que ele acorda ainda me atormenta o sono. Num filme normal, estas cenas seriam mais umas cenas banais. Aqui, elas elevam-se.

E os detalhes continuam no filme. A meia-hora do fim do filme há uma pequena cena que considero bem premonitória de que as coisas poderão não acabar bem. Na cena, o personagem do Brad Pitt chega a casa e vai deitar-se junto da mulher que está a dormir. Ele diz apenas que a ama muito e fim de cena. A cena só tem razão de existir se alguma coisa de mal acontecer a ele ou a ela. Senão era cortada. Acho que esta cena é fulcral para perceber que as coisas não vão acabar bem. E trata-se apenas de alguns segundos.
É este tipo de pormenores que me fazem apreciar cada vez mais o filme. Vou encontrando sempre coisas novas. E tenho a certeza que na próxima vez que revir o filme, este texto já seria maior.

E chegamos ao acto final. A famosa cena do "What's in the box". Temos Kevin Spacey ajoelhado, prestes a terminar a sua missão. Brad Pitt que lhe aponta a arma. Uma caixa de cartão com a cabeça da mulher do Pitt. E Morgan Freeman a tentar convencê-lo a não matá-lo. 
E aqui pergunto eu: quantos de nós não faríamos o mesmo que o personagem do Brad Pitt fez? Quanto de nós não se entregariam à IRA e completassem a vingança da morte da mulher? 


O filme acaba mal. O vilão consegue completar a sua missão com os 7 pecados. E é isso que o filme trata: a vulgaridade dos pecados. É tão normal hoje em dia o ser humano pecar que já é tido como natural. E é por isso que o filme é bom. Porque temos o foco nas pessoas, nos personagens, na história de cada um, e em última análise no ser-humano em geral.
Acaba mal, mas acaba por ser um tratado do comportamento humano. Porque na vida nem sempre há o happy-ending.

(Acho que este texto ficou meio confuso, mas havia tanto para comentar, que deve ter ficado uma salganhada)

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