Halloween 5: The Revenge of Michael Myers (1989) é uma daquelas sequelas que deixam qualquer fã de horror confuso, intrigado e, às vezes, a questionar as escolhas da produção. Desde o início, já percebemos que estamos prestes a embarcar numa viagem um tanto bizarra. O filme começa com um genérico a negro, entrecortado por umas facadas numa abóbora, como quem diz: "hei, estamos no Halloween..." Mas a música não é a clássica de John Carpenter. Um primeiro sinal de alerta, como se o filme nos avisasse para baixar as expectativas.
A história começa exatamente onde o anterior terminou, com Michael aparentemente “morto” (claro que não). Mas em vez de algo espetacular, descobrimos que ele fugiu... por um buraco. Um buraco! A fuga de um dos maiores assassinos do cinema é reduzida a uma aventura tipo Indiana Jones, enquanto o nosso Michael é arrastado por um rio, como se estivesse a flutuar para umas férias forçadas. Um eremita encontra-o e, por algum motivo, decide cuidar dele durante um ano inteiro. Uma espécie de "convalescência do mal". O Michael acorda e, numa das cenas mais rápidas do filme, mata o seu salvador. Assim mesmo, sem cerimónia.
Saltamos um ano, e encontramos Jamie, a sobrinha de Michael, num hospital psiquiátrico. A pobre miúda agora está muda e sofre com pesadelos sobre os eventos passados. E para piorar, parece que ela e Michael desenvolveram uma espécie de ligação telecinética. Porque, claro, se há algo que Halloween precisava, era de superpoderes mentais! Enquanto isso, o Dr. Loomis reaparece, cada vez mais obcecado e louco. Donald Pleasence aqui está numa performance digna de alguém que claramente já não sabe bem o que está a fazer no filme, mas mesmo assim tenta salvar o barco.
Um dos maiores insultos aos fãs do filme anterior acontece aos 21 minutos, quando Rachel, uma das personagens mais adoradas, é morta. Uma simples facada e pronto, adeus Rachel! Seria pedir muito uma morte mais dramática para ela? Afinal, ela sobreviveu ao filme anterior e merecia algo mais... épico! Mas não, o filme mal lhe dá atenção e move-se rapidamente para novas introduções, como Tina, a amiga meio desmiolada e super irritante. Tina é o tipo de personagem que queremos que seja morta cedo, mas o filme insiste em mantê-la viva, talvez só para nos torturar.
E por falar em tortura, o filme apresenta dois polícias que parecem ter saído de uma comédia maluca dos anos 80, totalmente descontextualizados com o resto da narrativa. É quase como se eles tivessem entrado o set de filmagem errado. Não há outra explicação! Felizmente, eles são mortos fora de cena, poupando-nos a mais momentos embaraçosos.
Voltando ao Michael, ele não perde o seu toque provocador. Num dos momentos mais caricatos, risca o carro do namorado da Tina, aquele típico gajo de casaco de cabedal e óculos escuros que se preocupa mais com o carro do que com a namorada. Pouco depois, espeta-lhe uma forquilha na testa. Como se não bastasse, ele ainda faz-se passar pelo namorado, usando outra máscara, e vai buscar a Tina num dos momentos mais tensos do filme. Quase que sentimos pena dela... mas não.
O último acto do filme é uma sequência confusa e apressada. Michael persegue Jamie de carro, mas Tina, a tal amiga irritante, tem o seu momento de redenção e sacrifica-se para salvar a menina. Uma reviravolta inesperada, dado que Tina parecia ser do tipo que ia abandonar tudo por uma festa.
No clímax, Loomis faz de Jamie um isco para atrair Michael de volta à sua casa. Lá, Jamie convence Michael a tirar a máscara. O Loomis intervém e Michael é capturado, aparentemente terminando o ciclo de violência. Ou pelo menos era o que pensávamos, porque na cena final, o tal homem misterioso de preto – que aparece no filme com tanta relevância quanto um figurante – invade a esquadra, mata toda a gente e liberta Michael. Quem é ele? O que quer? Nem a produção sabia ao certo. E nós ficamos na mesma.
E por último, é inevitável perguntar: será que não dava mesmo para pagar os direitos da máscara original do William Shatner? Ver Michael com aquela versão genérica deixa um gosto amargo, como se estivéssemos a olhar para uma imitação barata daquilo que já foi uma grande ameaça.
Halloween 5 é um filme que tenta ser mais do que consegue e acaba por ser uma confusão, com personagens mal aproveitadas, subtramas que não levam a lado nenhum e um final que só nos deixa com mais perguntas do que respostas.
Halloween 6: The Curse of Michael Myers (Producer’s Cut) é um filme que desafia qualquer tentativa de lógica narrativa, e isso começa de forma tão peculiar que não há como não rir um pouco com o absurdo. A trama abre com Jamie Lloyd, agora crescida e em trabalho de parto, a ser empurrada numa maca para um local tão sinistro quanto cliché – uma mistura entre hospital e câmara de tortura. Para dar as boas-vindas ao bebé, surge o misterioso Homem de Preto, que não só aparece como rapidamente desaparece, levando o bebé consigo. Olha que belo início de um drama familiar.
O filme mergulha rapidamente no terreno das bizarrices com um ritual macabro envolvendo a criança, enquanto a voz icónica do Dr. Loomis (Donald Pleasance) ecoa, tentando dar seriedade ao momento. Contudo, com um enredo destes, nem a gravidade de Pleasance salva. Jamie consegue escapar com a ajuda de uma enfermeira que, é claro, se torna na primeira vítima de Michael Myers – a boa e velha máquina de matar que não deixa ninguém escapar, nem mesmo a boa samaritana que tentou ajudar. Pelo menos as mortes são sempre um pouco criativas. Logo depois, vemos uma vítima aleatória sofrer uma morte memorável, com o pescoço a dar uma volta de 180 graus – um efeito prático que os fãs de horror sempre apreciam.
De volta ao enredo (?), somos apresentados à final girl, uma mãe adolescente com um filho que ouve vozes (sim, a saga Myers adora crianças problemáticas). E quem é que também regressa? O pequeno Tommy Doyle, o puto do primeiro Halloween, agora adulto, interpretado por um jovem Paul Rudd, que mais parece um voyeur com tendências estranhas, que espreita a vizinha enquanto ela se despe. Nada creepy... Depois temos o Dr. Loomis, mais velho e cansado, com uma desculpa meio esfarrapada sobre o porquê de já não ter as cicatrizes do filme anterior. Donald Pleasance faz o que pode com o material, mas fica claro que este é o seu último papel – e, infelizmente, a energia não é a mesma de outros tempos.
A morte de Jamie, aos 22 minutos, com uma singela facada, parece uma injustiça terrível. Depois de ser uma personagem tão importante desde o quarto filme, merecia muito mais do que essa morte pouco épica. Mais tarde, como que por coincidência ou destino cósmico estranho, Tommy encontra o bebé de Jamie. Conhecemos também os novos Strode, que inexplicavelmente (há lá uma explicação sobre mercado imobiliário) vivem na antiga casa dos Myers. Sabemos que essa ideia nunca dá certo. A mãe desta família tem a honra de morrer à machadada, uma morte bem sangrenta para agradar os fãs de gore.
Jamie, que pensávamos estar morta, reaparece viva no hospital, mas só para sofrer mais um pouco com visões perturbadoras que revelam que o pai do seu filho é, nada mais, nada menos, do que o próprio Michael Myers (sim, parece que as coisas não podiam ficar mais bizarras, mas ficam). Claro, logo depois de nos assombrar com essas visões, Jamie é morta com um tiro na cabeça – e aqui acaba sua triste história. A seguir, o pai Strode também encontra o seu fim, e honestamente ficamos aliviados porque ele era insuportável.
No final, as coisas ficam ainda mais estranhas quando o culto de Thorn entra em cena, revelando que Michael não é apenas um assassino implacável, mas um escravo da seita. O filme termina com um twist meio ridículo, onde o símbolo de Thorn é “passado” para Loomis, enquanto Michael Myers continua vivo e bem, porque, claro, ele é Michael "fucking" Myers.
O grande problema desta "trilogia Thorn" é a total falta de planeamento. Isso explica, pelo menos em parte, a demora entre o quarto e o quinto filme, e a confusão crescente que culmina no sexto. Esta versão, a Producer's Cut, tem um tom diferente da versão para os cinemas. A "theatrical cut" é um corte mais MTV, com música de guitarras pesadas e flashes irritantes nas transições, além de ser bem mais sangrento. Mas, pelo menos, tem uma energia mais frenética que combina com o caos da história.
A ausência de Danielle Harris, que não voltou para o papel de Jamie, é sentida. A sua substituta não traz o mesmo peso à personagem, e isso enfraquece a despedida de Jamie. Mesmo assim, prefiro o Loomis exausto deste filme ao do quinto, porque Pleasance, mesmo cansado, ainda dá alguma dignidade à loucura que se desenrola à sua volta. Halloween 6: The Curse of Michael Myers não é só o primeiro filme da saga produzido pela Miramax dos Weinstein, mas também um dos mais confusos. O que não quer dizer que não possamos rir e desfrutar com ele. Afinal, como não amar um filme que nos presenteia com um pescoço a girar 180 graus?