quarta-feira, 17 de setembro de 2025

THE CONJURING: LAST RITES



Em Last Rites, Ed e Lorraine Warren (Vera Farmiga e Patrick Wilson) enfrentam o que se diz ser o caso mais perigoso de toda a saga: uma família chamada Smurl é atormentada por um espelho amaldiçoado, aparições, objetos possuídos, e mais umas cenas sobrenaturais. Paralelamente, vemos Judy Warren (a filha do casal) com o seu namorado Tony e umas coisitas que a atormenta.

O filme abre com um flashback dos anos 60, introduz uma tragédia pessoal dos Warren e tece estas duas linhas narrativas: a dos Smurl, atormentados pelo mal – e a dos Warren lidando com os fantasmas do passado e com Judy, que tenta conciliar os perigos sobrenaturais com os dramas de família. Só no último acto é que tudo converge — espelho, demónios, revelações, etc.

Vera Farmiga e Patrick Wilson continuam a ser os pontos fortes do filme. Eles ainda têm química, e acabam por nos fazer acreditar que há algo real em tudo isto, que estas pessoas veem coisas que nós nem imaginamos — e têm medo. Farmiga, em particular, dá tudo — aquela tensão entre o cansaço, a fé, a culpa, o dever — é material para que ela possa brilhar. Mia Tomlinson como Judy impressiona — leve, mas com camadas. Consegue ser vulnerável sem se tornar irrelevante. (E fui só a mim que ela se parece demasiado com uma jovem Zooey Deschanel?) O elenco dos Smurl, no entanto, sofre um pouco: como são menos desenvolvidos, parecem figuras sobre as quais nos perguntamos “mas por que é que me devia importar tanto?”. Falta o chamado "character development".

Um dos maiores problemas do filme é ele ser demasiado longo. Algumas cenas repetem beats narrativos. A introdução leva bastante tempo a estabelecer as duas histórias (Warrens + Smurls), e só mais para o meio-fim é que as coisas começam a convergir. Há momentos em que sentimos “já vimos isto antes”, ou “quando é que voltamos ao espelho amaldiçoado?”. O filme poderia ter sido mais condensado: cortar umas subtramas menores, diminuir prolongamentos de tensão que incham o ritmo mas não acrescentam sustos novos nem desenvolvimento de personagem.

Esta estrutura narrativa de “duas linhas” é algo arriscado: por um lado adiciona complexidade, profundidade, permite explorar diferentes ângulos; por outro, pode dispersar. Last Rites faz isto: temos os Smurl a lidar com o tormento, e temos os Warrena lidar com o passado, culpa, expectativas. O problema é que, até quase ao final, sentimos que as linhas correm muito separadas, e a interseção poderia ter sido mais suave. O coincidir no último acto é eficiente — há tensão, há confronto — mas custa chegar lá: o público tem de segurar o entusiasmo por muito tempo.

Jump-scares, still alive 

A boa notícia para mim, que gosto de uns bons jump-scares; eles continuam a existir e bem feitos. Alguns são previsíveis, outros funcionam muito bem. Também há momentos com boa atmosfera, uso de ambientes escuros, espelhos, reflexos distorcidos, câmaras que observam antes de mostrar, uso competente de som. Não vai reinventar o género do terror, mas dá conta do recado.

O facto deste filme ser "baseado numa história verídica" não sei se ajuda, muito por culpa da romantização do casal Warren. O filme continua a retratar Ed e Lorraine como um casal quase ideal — dedicado, corajoso, devoto, unido a enfrentar o mal, com muita fé, com pouco conflito pessoal que afete negativamente. Mas na vida real há críticas: o envolvimento deles em certas investigações é controverso; algumas das suas práticas, alegações de autoria, descrições de fenómenos, etc., foram questionadas. O filme, obviamente, escolhe suavizar ou ignorar essas partes mais sombrias/complicadas para manter a mitologia. O risco disto é que a “romantização” torne os Warren demasiado heróicos, unidimensionais ou ideais, o que enfraquece a tensão moral ou psicológica. Se tudo for fé, coragem e sacrifício, falta espaço para dúvida — e medo real.

Finalmente, se compararmos este filme com os anteriores (nomeadamente os dois primeiros) aqui filme tropeça um pouco: o primeiro Conjuring (2013) estabeleceu o standard alto: atmosfera tensa, medo antigo, sensação de “não saber o que vai acontecer” — tudo isso feito com a mestria do James Wan. O segundo supera mesmo o nível, com sequências assustadoras e expansão do mundo sobrenatural, mas sem perder o controlo do tom. este Last Rites não chega lá. Não há tanta originalidade no mal que assombra, nem nos saltos de medo — muitos são previsíveis, ou dependem demasiado de música alta, efeitos sonoros bruscos, câmaras tremidas.
Em termos de impacto e frescura, os filmes anteriores fazem mais com menos: menos explicações, mais ambiguidade. Last Rites tenta compensar com escala, com várias linhas narrativas, com mais acção — o que às vezes dilui o terror. 

No geral The Conjuring: Last Rites vale a pena se formos fãs da saga e quisermos fechar com Ed, Lorraine e Judy. Há bastante material emocional de despedida.

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