quarta-feira, 7 de maio de 2025

STAR WARS: RETURN OF THE JEDI (1983)

Se tivesse que escolher apenas um filme da saga Star Wars para levar para uma ilha deserta (com wi-fi e um projetor, claro), seria sem dúvida Return of the Jedi. É o meu preferido desta galáxia far, far away — e não, não me importo minimamente que o Império tenha sido derrotado por um exército de ursos de peluche com paus, pedras e fisgas. Aliás, se isso não é cinema de qualidade, não sei o que será.

A história começa com um resgate digno de telenovela espacial: Luke, agora meio jedi/ meio guru espiritual, vai salvar Han Solo do gangster Jabba the Hutt. Isto tudo culmina com a Princesa Leia num outfit de escrava que, convenhamos, já merecia um Oscar só por existir.E fez de nós, meninos dos anos 80, homens de pelo no peito e alto nas calças.

Mas o que torna este filme especial não é só a acção ou a nostalgia — é o coração. A tensão na luta final entre Luke e Vader é qualquer coisa de especial. É ali, naquele confronto carregado de hesitações, raiva contida e daddy issues, que percebemos o verdadeiro coração da história. Não é a coreografia mais épica da saga (para isso temos as prequelas) mas a carga emocional compensa cada golpe mais lento. E o imperador Palpatine ali no canto dá aquele toque dramático extra.

E depois há Endor. Florestas luxuriantes, pores-do-sol mágicos e uma aldeia de Ewoks que me faz querer largar tudo e mudar-me para lá. As paisagens são de cortar a respiração — parece um anúncio da National Geographic, mas com mais explosões. Toda aquela sequência com os speeders tem mais adrenalina que qualquer merda feita hoje em dia.

No fim, Return of the Jedi é um filme que equilibra acção, emoção e um toque de absurdo delicioso. Porque, sejamos honestos, se ursinhos armados com fisgas conseguirem derrotar um império intergaláctico... talvez haja esperança para todos nós.

sábado, 3 de maio de 2025

CREATURE FROM THE BLACK LAGOON (1954)


Quando falamos dos monstros clássicos da Universal – Drácula, Frankenstein, o Lobisomem – esquecemo-nos muitas vezes que houve um último a emergir das profundezas para se juntar ao clube: Creature From the Black Lagoon, realizado por Jack Arnold em 1954. Meio homem, meio peixe, completamente icónico: o Gill Man mergulhou fundo na imaginação popular e continua, ainda hoje, a nadar por aí, mesmo para quem nunca viu o filme.

Parece que a ideia nasceu de um mito fascinante: uma lenda amazónica que falava de criaturas anfíbias, com traços humanos, que viviam escondidas nas águas tropicais do rio Amazonas. Esta história foi contada ao produtor William Alland durante uma festa em casa de Orson Welles, e não demorou muito até a criatura ganhar forma.

A história é simples mas eficaz: uma expedição científica descobre fósseis de uma estranha mão com membranas, levando-os a aventurar-se rio acima até uma lagoa remota (o tal Black Lagoon do título). Lá encontram o Gill Man – assim chamado pelas guelras proeminentes e estilo pisciforme – uma criatura ancestral que só quer ficar em paz nas suas águas tropicais. Claro que os humanos, como bons turistas, decidem fazer barulho, tirar tudo do lugar e ainda levar um souvenir vivo para casa.

Jack Arnold, que já tinha tido sucesso com o sci-fi 3D It Came From Outer Space, apostou novamente na profundidade (literal e figurativamente) para filmar esta aventura em três dimensões – uma das primeiras do género. A tecnologia até foi usada de forma criativa, especialmente nas cenas subaquáticas, que ainda hoje impressionam pela fluidez e beleza.

Nos anos 80 houve aquele evento da RTP passar o filme neste formato e isso não ter sido muito bem recebido. Confesso que não me lembro disso. 

A forma como a criatura e a personagem Kay Lawrence (Julie Adams) "dançam" debaixo de água é quase poética… se ignorarmos o facto de ele, eventualmente, querer levá-la para o fundo.

A Criatura foi uma proeza de efeitos práticos e design. Ela foi desenhada com base em gravuras bizarras do século XVII de seres marinhos lendários como o "sea monk" e o "sea bishop" – o que explica o seu ar de cardeal escamado. (Isto se acreditar nas curiosidades do IMDb). 

Resumidamente, o que diferencia o Gill Man dos seus companheiros góticos é a carga trágica e quase empática da personagem. No fundo, só quer nadar no seu canto, mas é incompreendido, atacado e, claro, usado como espetáculo científico. Pois, o ser humano tem talento para entrar sem bater à porta e depois culpar o dono da casa por não ter deixado o chá pronto.

No fim, o Gill Man continua a ser um dos monstros mais complexos do cinema: um ser pré-histórico, deslocado, ameaçado... e ao mesmo tempo, majestoso. Não é só o terror que me faz lembrar dele – é o sentimento. E talvez por isso, ele tenha um lugar especial no meu coração.

terça-feira, 15 de abril de 2025

LES TROIS MOUSQUETAIRES: D'ARTAGNAN (2023)


"Les Trois Mousquetaires: D’Artagnan" (2023) é o tipo de filme que grita "produção milionária" em cada frame — mas não num mau sentido, tipo aqueles filmes empacotados em CGI até aos ossos. Nada disso. Aqui sente-se o cheiro da terra molhada, o peso das espadas e o frio dos castelos mal iluminados. Parece que em vez de construírem estúdios, decidiram simplesmente ocupar a França inteira. Cada cena parece gritar: “Isto não foi feito em estúdio, isto foi filmado com cavalos verdadeiros, espadas a sério e provavelmente uma quantidade considerável de lama autêntica.” Resultado? Visualmente deslumbrante, quase dá vontade de vestir uma capa e sair a correr para o campo.

A realização é impecável — Martin Bourboulon conduz a história com a mesma elegância com que um mosqueteiro empunha a sua espada: firme, estiloso e com um je ne sais quoi moderno que nos faz esquecer que esta história tem barbas tão longas quanto as de Richelieu. É um daqueles casos raros em que o respeito pelo clássico não impede o filme de parecer fresco, urgente e com ritmo.

Quanto ao elenco, é tudo gente que sabe o que está a fazer. Ninguém está ali só para posar com espada ou fingir sotaques. Cada um tem o seu momento de brilhar (ou sangrar, ou ambos). E D’Artagnan, interpretado com aquela energia jovem que dá vontade de gritar "Tous pour un!", convence do início ao fim.

  Mas quem me deixou completamente desarmado foi Lyna Khoudri. Que presença! Que olhar! Que beleza! Se fosse eu no lugar de D’Artagnan, o duelo com Rochefort teria acabado mais cedo só para poder voltar mais depressa ao olhar dela. Verdade seja dita: fiquei de queixo caído e, sinceramente, ainda estou à procura dele.  

No fundo, este D’Artagnan é como um bom vinho tinto francês: encorpado, elegante, um pouco dramático e com um final que nos deixa a querer mais. este D’Artagnan é um épico francês que prova que o cinema de capa e espada pode, sim, ser sexy, intenso e cheio de garra no século XXI. 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

MOONRAKER (1979)

Sejamos sinceros, se há algo que define Moonraker (1979), além da capacidade de desafiar aquilo que é o "suspension of disbelief", é o facto de levar James Bond a novos patamares – literalmente, até ao espaço! O charme de Roger Moore é algo que ninguém lho rouba, sempre com o  ar de quem parece ter acabado de sair de um anúncio de whiskey. Depois, digamos que este filme mais parece um do género do Johnny English que um Bond a sério. 

O filme começa logo em grande estilo com uma cena de queda livre que desafia qualquer lógica. Ora, o Bond é empurrado de um avião sem paraquedas e, em vez de entrar em pânico como qualquer ser humano normal, faz acrobacias no ar para roubar um paraquedas no último segundo. Qual Tom Cruise, qual quê... Isto é bem ao estilo de Missão impossível. Mas para Bond, é só mais um dia de trabalho.

E não podemos ignorar o MVP deste filme, Jaws, o gigante com dentes de aço (que transitou do filme anterior) que passa metade do filme a tentar matar Bond e a outra metade a desenvolver um romance improvável com uma loira franzina... Porquê? A resposta é "e porque não!"
O vilão Hugo Drax, por outro lado, parece um empresário milionário que decidiu que exterminar a humanidade, ao esmo tempo que recriava uma raça perfeita no espaço. Papel que poderia ser interpretado na perfeição hoje em dia pelo Musk ou pelo Trump. O seu plano é ridiculamente exagerado, mas combina bem com o tom do filme. Afinal, temos um vilão com um exército de capangas meio patetas e cães assassinos, que estão lá para protagonizar a cena mais macabra de toda a saga (à excepção daquela tortura que o Daniel Craig sofre no Casino Royale).

E Bond não pode ser Bond sem as suas "girls". Bond é tão bom que pratica o coito em qualquer ponto do planeta – e fora dele. Selvas, aviões, estações espaciais… se existe gravidade ou não, pouco importa. A última cena, com Bond em órbita, é tão absurda que até Q comenta: "My God, Bond is attempting re-entry!" Um trocadilho tão descarado que faria corar o Quim Barreiros.

No fundo, Moonraker é um filme que ultrapassa os limites do ridículo e entra diretamente na categoria de "tão mau que é bom". E essa é a beleza deste filme: é uma paródia involuntária de si mesmo, um espetáculo de exageros que nos lembra porque é que amamos (e gozamos com) James Bond.